SIM E NÃO
Mas sendo este um espaço para devaneios, é nesse registo (e apenas nesse) que aqui o abordo.
Tenho ouvido muita gente manifestar publicamente a sua opinião sobre a despenalização à interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas. Por vezes com tal fervor que, nalguns casos, me ficou a dúvida sobre os verdadeiros motivos com que o faziam.
Não por se manifestarem fervorosamente, mas porque as razões evocadas para defenderem a sua posição, me pareceram pouco sentidas. Antes estrategicamente planeadas.
Não concordo com o aborto como método anticoncepcional. Mas concordo muito menos que morram mulheres vitimas de abortos clandestinos.
Esta não é para mim uma questão de sim ou não. É antes uma questão de sim e não. Porque não havendo verdades absolutas, os argumentos para um e outro são quase infindáveis, e igualmente válidos.
Seja qual for o resultado do referendo, espero sinceramente que as extremadas posições contribuam para uma séria e firme mudança de mentalidades.
Espero que a educação sexual (nas escolas e em casa) deixe de ser uma piada para ser antes uma saudável troca de conhecimentos e experiências .
Espero que o planeamento familiar deixe de ser uma especialidade longínqua da medicina, e de último recurso, e passe antes a ser uma especialidade de prevenção e de primeiro recurso.
Espero que (pelo menos) as mulheres que já fizeram um aborto, não sintam a necessidade de criticar publicamente outras que o tenham feito - porque há quem se sinta socialmente obrigada a fazê-lo.
Espero que acabem os abortos clandestinos, improvisados em marquises de mil usos.
Espero que não morra nem mais uma mulher por este motivo. Espero que por falta dos outros motivos não morra nem mais uma criança.
6 Comentários:
É mesmo um assunto controverso que apela sobretudo à consciencia de cada um e mais particularmente às mulheres pois são elas que sofrem directamente no corpo e na alma as consequências. Socialmente parece-me que quem vai sofrer mais no caso de passar o não serão como sempre as mulheres mais desfavorecidas aquelas que não podem pagar um aborto no pais vizinho e que por falta de meios se sujeitam a qualquer coisa e depois servem de bode expiatório para as moralidades cá do pequeno burgo. Não me parece bem...espero que não se confirme a teoria de que o pão do pobre cai sempre com a manteiga para baixo. xi-coração lu
Este debate é surdo. Todos falam e niguém se ouve.E para quem tem dúvidas na intenção de voto ( não é o meu caso ) que tente ouvir os argumentos de parte a parte. Deve fazê-lo. Agora, se não soubesse onde votar, no meu caso votava SIM bastando para isso ouvir argumentos do NÃO. Mas cada um...
Concordo contigo em absoluto, filha. Também me faz impressão a maior parte dos debates como por exemplo o prós e contras desta semana. Pareciam claques de futebol. É que neste caso a decisão no voto depende da consciência de cada um e não de grupos. Não faz qualquer sentido o género de apelo ao voto que se faz ouvir nesta altura. O que oiço não são sessões informativas como deviam ser mas sim cada um a puxar a braza a uma sardinha diferente o que na maior parte dos casos não é mais que a mesma coisa em vários angulos. Já não suporto gente assim.
Beijos filha.
PC
Despenalizar = Isentar de pena. É apenas isto que se vai votar. Nada mais foi prometido pelos nossos governantes. Se eles quisessem fazer mais qualquer coisa tinham votado uma matéria tão importante, que nos coloca a anos luz do resto da Europa, na Assembleia. Assim, lava-se as mãos e cada um que opine.
O problema é que cada um vai opinar segundo a sua própria consciência, porque de civismo os portugueses não têm nada. Do que se trata aqui é de não penalizar quem age segundo a sua própria consciência. Cada um tem direito à sua, mas existindo referendo corre-se o risco de ao exercê-la, se ser condenado. É justo?
Sou homem e sinceramente...é muito complicado. Mas cá vai. Sou contra qulquer acto que vá contra a vida e um feto é vida! Mas dos males o menor, e acho que não haverá maior pena do que viver com um aborto na consciência...voto sim...
Resta-me dizer que a minha decisão já está tomada há muito tempo. E o meu sentido de voto não mudou desde o último referendo.
Apenas lamento profundamente que este não seja um assunto estudado e discutido nas suas imensas implicações, porque não se esgota numa auditoria àquilo que a maioria dos votantes pensa, embora pudesse começar por aí.
O meu inequívoco SIM à despenalização, será entregue com a mesma certeza de que se está a perder uma oportunidade única de mudar muitas das causas. Mais uma!
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